segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

A mediação de leitura como situação de trocas e vínculos

“Nunca ninguém se ofereceu para ler pra mim”. Essa foi a primeira reação, um tanto surpresa do Sr Manoel. No início da leitura de “A Árvore Generosa” (Shel Silverstein, Cosac Naify), ele ainda parecia desconfiado, talvez tentando entender qual era o propósito de tal convite. Chegou a perguntar se estávamos vendendo os livros. Lá pelas tantas, mais tranquilo e possivelmente embalado pela voz que dava ritmo à narrativa, Sr Manoel percebia o convite implícito da mediadora, que nas pausas que fazia, o chamava para pronunciar a oração que se repetia: “e a árvore ficou feliz”. Cada repetição dessa frase era experimentada por Manoel com diferentes entonações, às vezes mais animada, outras vezes de modo mais dramático. Quando finalizaram a leitura, Sr Manoel quis comentar o livro e embora considerasse triste o final da história, estava com um sorriso no rosto, visivelmente satisfeito pela experiência inédita que havia tido. Então contou que estava matriculado no MOVA e que aprendera a ler recentemente, aos 60 anos. Sr Manoel ainda ficou por ali, folheando outros livros. Quando foi se despedir, foi a vez da mediadora repetir: “...e o Seu Manoel ficou feliz”.
     


A mediação de leitura como o Collectivus acredita se caracteriza como um momento de troca em torno das narrativas literárias. Uma troca que é afetiva, também de (re)conhecimentos e testemunhos. O mediador de leitura cumpre uma importância fundamental para que a troca aconteça, estando atento às oportunidades para o estabelecimento de inter-relações na tríade ouvinte(s), livro e mediador. A leitura de histórias, mobilizadas pela voz que dá vida ao livro e pelo próprio universo ficcional das narrativas, traz à tona lembranças que fazem com que os ouvintes queiram falar sobre si, suas histórias e questões sobre o mundo. O livro como um bom incentivador para o diálogo.