“Nunca ninguém se
ofereceu para ler pra mim”. Essa foi a primeira reação, um tanto surpresa do Sr
Manoel. No início da leitura de “A Árvore Generosa” (Shel Silverstein, Cosac
Naify), ele ainda parecia desconfiado, talvez tentando entender qual era o
propósito de tal convite. Chegou a perguntar se estávamos vendendo os livros.
Lá pelas tantas, mais tranquilo e possivelmente embalado pela voz que dava
ritmo à narrativa, Sr Manoel percebia o convite implícito da mediadora, que nas
pausas que fazia, o chamava para pronunciar a oração que se repetia: “e a
árvore ficou feliz”. Cada repetição dessa frase era experimentada por Manoel
com diferentes entonações, às vezes mais animada, outras vezes de modo mais
dramático. Quando finalizaram a leitura, Sr Manoel quis comentar o livro e
embora considerasse triste o final da história, estava com um sorriso no rosto,
visivelmente satisfeito pela experiência inédita que havia tido. Então contou
que estava matriculado no MOVA e que aprendera a ler recentemente, aos 60 anos.
Sr Manoel ainda ficou por ali, folheando outros livros. Quando foi se despedir,
foi a vez da mediadora repetir: “...e o Seu Manoel ficou feliz”.
A mediação de leitura
como o Collectivus acredita se caracteriza como um momento de troca em torno
das narrativas literárias. Uma troca que é afetiva, também de (re)conhecimentos
e testemunhos. O mediador de leitura cumpre uma importância fundamental para
que a troca aconteça, estando atento às oportunidades para o estabelecimento de
inter-relações na tríade ouvinte(s), livro e mediador. A leitura de histórias,
mobilizadas pela voz que dá vida ao livro e pelo próprio universo ficcional das
narrativas, traz à tona lembranças que fazem com que os ouvintes queiram falar
sobre si, suas histórias e questões sobre o mundo. O livro como um bom
incentivador para o diálogo.