Que são as palavras impressas em um livro?
Que significam estes símbolos mortos?
Nada, absolutamente.
Que é um livro se não o abrimos?
É, simplesmente, um cubo
de papel e couro, com folhas.
Mas, se o lemos, acontece uma coisa rara:
creio que ele muda a cada instante.
Jorge
Luis Borges
por Adriana Campos –
Collectivus de Leitura
O que leva
uma pessoa a possuir seu “livro de cabeceira”? Guardar a “sete-chaves” o
primeiro livro que ganhou ou reservar espaço especial na casa para acondicioná-lo?
As pessoas que têm
algum desses comportamentos (ou outros similares), já sabem as respostas ou, ao
menos, as sentem. A materialidade do livro traz em si não somente a historia
que ele comporta como suporte narrativo, mas também, as situações físicas,
emocionais e temporais em que se dá o ato da leitura.
E a mediação de
leitura opera como alavanca e espaço para o surgimento e/ou fortalecimento dessas
situações que configuram ao livro o status de objeto afetivo.
A presença dos pais
e/ou adultos pertencentes às redes afetivas das crianças nas situações de
leitura que elas vivenciam, se torna elemento imprescindível para que elas
atribuam significados ao “livro-objeto”. Lendo para elas ou se colocando como
ouvinte das histórias que elas leem, os pais/adultos colaboram com o despertar
do desejo das crianças em descobrirem o que há dentro do “retângulo”, além do
recheio de papel e símbolos gráficos. Fazem-se partícipes da constituição do
livro como objeto-afeto.
Portanto,
introduzir mediação de leitura como prática cotidiana familiar (ou escolar)
proporciona às crianças experiências potentes e salutares em torno das
narrativas literárias, pois é neste momento que terão a atenção, o colo, a boca,
a voz, o olhar do adulto inteiramente dedicados à elas. O livro e a(s)
história(s) que ele comporta, se torna(m) elementos de aconchego, de
compartilhar e vivenciar o prazer de “estar junto”. E assim, o livro não é
apenas “um mero objeto”, ele é o elemento que agrega e gera sentido, traz
lembranças e faz outras histórias além da(s) que contém.
Assim, seja pelo ato de leitura isolada e
individual, seja pela leitura realizada pela proferição do texto por outrem
(como nas situações de mediação de leitura) a materialidade do livro ganha as
matizes da cultura e da afetividade, gerando a Experiência, promovendo o encontro do individuo leitor e/ou ouvinte
com o mundo e, principalmente, consigo.
Referências Bibliográficas:
BORGES,
J. L. – Cinco visões pessoais. Trad.
Maria Rosinda da Silva. Brasília: Universidade
de Brasília, 1985
CERTEAU,
M. - A invenção do cotidiano. Artes
de fazer. 7. Editora Vozes:
Petrópolis 1994
GOULART,
I.C.V – Entre a materialidade do livro e a interatividade do leitor: práticas
de leitura. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação vol. 12, nº 2, 2014
LARROSA,
J. B. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. Campinas nº19, 2002