quinta-feira, 13 de julho de 2017

Ler e brincar é só começar

Há tempos nos debruçamos sobre as relações possíveis entre ler e brincar, não somente em teoria, mas, sobretudo, na prática da arte-ação que realizamos por meio de nossas intervenções: a Mediação de Leitura.

De fato muitos mitos sobre o ato ler vêm sendo desvelados, já é grande o número de profissionais, instituições e pessoas que possuem relações (afetivas e/ou institucionais) com crianças que acreditam que ler não se trata somente de decodificação do código escrito e, tampouco se trata de um ato silencioso e inerte corporalmente.
                                                                                                   

Crianças estão sempre em movimento, explorando espaços, objetos e sim, também as palavras. Deixar que experimentem as sonoridades, formatos das palavras e sensações (táteis, visuais ou outras de ordem subjetiva), pode ser muito prazeroso. E esse é um dos “pulo gato” para aproximá-las do universo da leitura.  









É interessante que possamos oportunizar que as crianças acessem os livros e a leitura desses sem amarras, regras (principalmente as que limitem o corpo) ou quaisquer outras condições que venham limitar ou impossibilitar o acesso ao lúdico e ao prazer no momento da leitura. E tenham certeza eles os encontram mesmo nas situações e/ou em narrativas que a priori, nós adultos podemos julgar que não se encontram.
E surge aqui uma pergunta intrigante a muitos:  mesmo na leitura de livros que fale de temas difíceis como morte, separação dos pais, monstros e bichos aterrorizantes, se é possível garantir a ludicidade?



Sim,  e por isso muitas vezes nos surpreendemos com as escolhas das crianças para repetidas leituras de obras cujo temas envolvem vivências aflitivas, com situações ou personagens que inspiram medo. Entendemos que não é à toa que as crianças gostam de brincar com seus medos (de se imaginar em perigo, enfrentando monstros, por exemplo), seus conflitos (colocam os bonecos para discutir ou lutar)...encenam na brincadeira histórias que precisam enfrentar. Tudo que causa uma forte impressão na criança - tanto prazerosa quanto desagradável - parece que precisa ser repetido até ser elaborado. 

Dessa forma, a criança pode obter o controle da situação e revivê-la, atribuindo um novo significado. “Repetir, repetir até ficar diferente” dizia Manoel de Barros sobre seu processo criativo. Nesse sentido, lembramos das primeiras brincadeiras dos bebes (o cadê/achou), que tem uma função psíquica importante, a medida que ajuda o bebe a perceber a continuidade do mundo, lidar com a separação da mãe; a brincadeira ajuda a ele se dar conta que a mãe e o mundo continuam existindo mesmo quando não estão no seu campo perceptível.
Portanto, não há entraves para os pequeninos acessarem os livros. Não tenham medo de que esses sejam rasgados, amassados. Não tenham receio das histórias que os livros abrigam, permitam o livre acesso, o livre brincar, afinal ler e brincar é só começar!