Há tempos nos debruçamos sobre as relações
possíveis entre ler e brincar, não somente em teoria, mas, sobretudo, na prática
da arte-ação que realizamos por meio
de nossas intervenções: a Mediação de Leitura.
De fato muitos mitos sobre o ato ler vêm sendo
desvelados, já é grande o número de profissionais, instituições e pessoas que
possuem relações (afetivas e/ou institucionais) com crianças que acreditam que
ler não se trata somente de decodificação do código escrito e, tampouco se
trata de um ato silencioso e inerte corporalmente.

Crianças estão sempre em movimento, explorando espaços, objetos e sim, também as palavras. Deixar que experimentem as sonoridades, formatos das palavras e sensações (táteis, visuais ou outras de ordem subjetiva), pode ser muito prazeroso. E esse é um dos “pulo gato” para aproximá-las do universo da leitura.

É interessante que possamos oportunizar que as
crianças acessem os livros e a leitura desses sem amarras, regras
(principalmente as que limitem o corpo) ou quaisquer outras condições que
venham limitar ou impossibilitar o acesso ao lúdico e ao prazer no momento da
leitura. E tenham certeza eles os encontram mesmo nas situações e/ou em narrativas
que a priori, nós adultos podemos julgar que não se encontram.
E surge aqui uma pergunta intrigante a muitos: mesmo na
leitura de livros que fale de temas difíceis como morte, separação dos pais,
monstros e bichos aterrorizantes, se é possível garantir a ludicidade?
Sim, e por isso muitas vezes nos surpreendemos
com as escolhas das crianças para repetidas leituras de obras cujo temas
envolvem vivências aflitivas, com situações ou personagens que inspiram medo.
Entendemos que não é à toa que as crianças gostam de brincar com seus medos (de
se imaginar em perigo, enfrentando monstros, por exemplo), seus conflitos
(colocam os bonecos para discutir ou lutar)...encenam na brincadeira histórias
que precisam enfrentar. Tudo que causa uma forte impressão na criança - tanto
prazerosa quanto desagradável - parece que precisa ser repetido até ser
elaborado.
Dessa forma, a criança pode obter o controle da situação e
revivê-la, atribuindo um novo significado. “Repetir, repetir até
ficar diferente” dizia Manoel de Barros sobre seu processo
criativo. Nesse sentido, lembramos das primeiras brincadeiras dos bebes (o
cadê/achou), que tem uma função psíquica importante, a medida que ajuda o bebe
a perceber a continuidade do mundo, lidar com a separação da mãe; a brincadeira
ajuda a ele se dar conta que a mãe e o mundo continuam existindo mesmo quando
não estão no seu campo perceptível.
Portanto, não há entraves para os pequeninos acessarem os livros. Não
tenham medo de que esses sejam rasgados, amassados. Não tenham receio das
histórias que os livros abrigam, permitam o livre acesso, o livre brincar,
afinal ler e brincar é só começar!
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