quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sob a lente de Lima Barreto – Breve Retrato da FLIP 2017

Texto Depoimento: por Wilza Nunes - membro Collectivus de Leitura

"Por esse intrincado labirinto de ruas e bibocas
é que vive uma grande parte da população da cidade, 
a cuja existência o governo fecha os olhos, embora lhe cobre
atrozes impostos, empregados em obras inúteis suntuárias
noutros pontos do Rio de Janeiro"
Afonso Henriques de Lima Barreto


     A FLIP deste ano (2017) respirou uma força tamanha: ecoava pela cidade, como um sino ouvido ao longe, palavras, poemas, relatos, debates e diálogos de formas diversas em suas representatividades e expressões, sentimentos de resistência, de alternativas e de solidariedade teciam um bordado colorido, atual e firme sobre a obra deste autor e o panorama do nosso país.
     Sob a lente de Lima Barreto foi se ampliando os olhares, fortalecendo diálogos em torno de questões sociais, com belezas, movimentos e sons.
Em meio a beleza poética, força politica libertária encontramos, infelizmente, seu contrário: a repressão do Estado destoava neste cenário; policiais municipais agiam de forma repressiva e autoritária contra artesãos e artistas que estavam expondo seus trabalhos no centro histórico de Parati, com gás de pimenta e cassetetes espalharam o revés, o infortúnio. O contraste se estabeleceu gerando reações das pessoas ali presentes, palavras de ordem foram ditas, com a mesma força e resistência encontradas no ar da festa literária: “O Povo unido jamais será vencido”.    

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Ler e brincar é só começar

Há tempos nos debruçamos sobre as relações possíveis entre ler e brincar, não somente em teoria, mas, sobretudo, na prática da arte-ação que realizamos por meio de nossas intervenções: a Mediação de Leitura.

De fato muitos mitos sobre o ato ler vêm sendo desvelados, já é grande o número de profissionais, instituições e pessoas que possuem relações (afetivas e/ou institucionais) com crianças que acreditam que ler não se trata somente de decodificação do código escrito e, tampouco se trata de um ato silencioso e inerte corporalmente.
                                                                                                   

Crianças estão sempre em movimento, explorando espaços, objetos e sim, também as palavras. Deixar que experimentem as sonoridades, formatos das palavras e sensações (táteis, visuais ou outras de ordem subjetiva), pode ser muito prazeroso. E esse é um dos “pulo gato” para aproximá-las do universo da leitura.  









É interessante que possamos oportunizar que as crianças acessem os livros e a leitura desses sem amarras, regras (principalmente as que limitem o corpo) ou quaisquer outras condições que venham limitar ou impossibilitar o acesso ao lúdico e ao prazer no momento da leitura. E tenham certeza eles os encontram mesmo nas situações e/ou em narrativas que a priori, nós adultos podemos julgar que não se encontram.
E surge aqui uma pergunta intrigante a muitos:  mesmo na leitura de livros que fale de temas difíceis como morte, separação dos pais, monstros e bichos aterrorizantes, se é possível garantir a ludicidade?



Sim,  e por isso muitas vezes nos surpreendemos com as escolhas das crianças para repetidas leituras de obras cujo temas envolvem vivências aflitivas, com situações ou personagens que inspiram medo. Entendemos que não é à toa que as crianças gostam de brincar com seus medos (de se imaginar em perigo, enfrentando monstros, por exemplo), seus conflitos (colocam os bonecos para discutir ou lutar)...encenam na brincadeira histórias que precisam enfrentar. Tudo que causa uma forte impressão na criança - tanto prazerosa quanto desagradável - parece que precisa ser repetido até ser elaborado. 

Dessa forma, a criança pode obter o controle da situação e revivê-la, atribuindo um novo significado. “Repetir, repetir até ficar diferente” dizia Manoel de Barros sobre seu processo criativo. Nesse sentido, lembramos das primeiras brincadeiras dos bebes (o cadê/achou), que tem uma função psíquica importante, a medida que ajuda o bebe a perceber a continuidade do mundo, lidar com a separação da mãe; a brincadeira ajuda a ele se dar conta que a mãe e o mundo continuam existindo mesmo quando não estão no seu campo perceptível.
Portanto, não há entraves para os pequeninos acessarem os livros. Não tenham medo de que esses sejam rasgados, amassados. Não tenham receio das histórias que os livros abrigam, permitam o livre acesso, o livre brincar, afinal ler e brincar é só começar! 



terça-feira, 18 de abril de 2017

Vamos ouvir uma criança lendo?

“ler é ser um pouco clandestino, é abolir o mundo exterior,
deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário”.
Lionel Bellenger

     Ler para uma criança é muito mais do que a proferição do código escrito para outrem, está além do ensinar, do dar exemplo (mesmo que isto se faça verdadeiro e, de fato o é). Ler para uma criança é promover diálogo sobre nossa cultura, é ratificar que estar junto é prazeroso e salutar para nossas vidas.
     E ouvir o que as crianças têm para nos contar, ler? E  ouvi-las lendo quando ainda não são alfabetizadas? 
     Tenham a certeza que isto é muito importante e compõe o ato ler para elas e com elas. Por isso, não deixem de acolher esses momentos, permitindo que o façam sem julgamentos, cerceamentos ou quaisquer outras maneiras que direcionem este processo, pois sim, elas estão lendo.
     Ler não é só a decodificação do código, ler é compreender, interpretar, reter e expressar o que fora lido, deste modo, quando um(a) pequenino(a) não alfabetizado se coloca a ler, sobretudo, uma história que já lhe foi lida, ele está expressando sua compreensão e interpretação do texto, mesmo que a princípio não encontremos relações diretas ou aparentes com texto, tenham certeza, elas existem e precisam ser exteriorizadas. A presença do adulto nesses momentos fortalece os pequenos, os incentiva a arriscar e torna os momentos de leitura situações de cumplicidade entre os pequenos leitores e seus ouvintes.
     Assim, vimos mais uma vez fazer este convite: Vamos ler para uma criança hoje? Vamos ouvi-la lendo para nós hoje? Esperamos que nos respondam: Sim vamos!


Criança de 3 anos lendo para os seus pais